| Frederico Figner             Israelita de nascimento, viveu no lar paterno os preconceitos de sua   raça contra o Carpinteiro de Nazaré . Na verdade, porém, Fígner, como   muitos outros judeus, não tinha religião alguma.
 Foi no Brasil e quando já negociante próspero, com seu estabelecimento   comercial e industrial no Rio de Janeiro e uma sucursal em São Paulo,   que Fígner foi chamado a conhecer a verdade. Nos últimos anos do século   passado ou nos primeiros deste século, Fígner travou relações de amizade   com Pedro Sayão, filho do saudoso doutrinador Antônio Luís Sayão, pai   da célebre cantora Bidu Sayão. Pedro Sayão, durante cerca de dois anos,   lhe freqüentava a loja e palestrava sobre Espiritismo e Cristianismo,   sem que Fígner se impressionasse muito pelo assunto; porém, numa de suas   visitas ao seu estabelecimento de São Paulo, Fígner ouviu a dolorosa   história de um seu empregado, cuja esposa se achava gravemente enferma e   necessitada de melindrosa intervenção cirúrgica. Ao regressar ao Rio,   Fígner pediu a Pedro Sayão lhe obtivesse receita para cura da enferma de   São Paulo. Veio a receita e a cura da doente, sem intervenção alguma   dos médicos. Foi esse fato que inclinou Fígner a favor do Espiritismo.
 
 Já impressionado com a cura da doente mediante uma receita mediúnica,   Fígner foi procurado em sua loja por um pobre, pai de família   desempregado, em penosa situação econômica. Ouviu-lhe o relato de suas   aflições, deu-lhe um pouco de dinheiro e disse-lhe que voltasse oito   dias mais tarde. Ao sair o necessitado, pela primeira vez na vida Fígner   fez um pedido ao Carpinteiro de Nazaré : “Se é como dizem os cristãos   que Tu tens poder, ajuda a esse pobre pai de família; arranja-Lhe   trabalho e meios de vida!”
 
 Oito dias mais tarde, voltava o homem com o sorriso dos felizes e lhe   narrava: “Já estou trabalhando e brevemente virei restituir seu   dinheiro, Sr. Fígner. Fui procurado por uma pessoa que me convidou para   um emprego inteiramente inesperado“.
 
 Fígner se entusiasmou e repetiu semelhantes pedidos, com resultados   sempre positivos. Em vez de pedir a Jesus, passou a pedir a Maria e   igualmente os resultados não se faziam esperar. Encheu-se de fé que   transporta montanhas e estudou com entusiasmo o Espiritismo e o   Cristianismo. Passou a consagrar sua vida ao serviço dos outros.
 
 Não se sabe ao certo quando se deu essa conversão, mas em 1903 já se   encontram vestígios das atividades espíritas de Fígner na Federação   Espírita Brasileira.
 
 Por ocasião da gripe “espanhola “, em 1918, com 14 doentes em seu   próprio lar e ele mesmo adoentado e febril, passava os dias inteiros na   Federação, atendendo a doentes e necessitados que lá iam, em avalanches,   buscar recursos para situações aflitivas.
 
 Sua vida normal durante longos anos consistia em ir de manhã e a tarde à   Federação tomar ditados de receitas de diversos médiuns, chegando a   tomar 150 a 200 receitas por dia e a dar passes em numerosos doentes.   Levantava-se às cinco horas da manhã e, antes de ir à loja, ia à   Federação, de onde só saía quando terminava esse serviço de tomar   ditados de receitas. Às quatro horas da tarde lá estava de novo para   orar e dar passes em doentes. E curava mesmo os enfermos, pois que seus   “fregueses“, como ele lhes chamava na intimidade, cresciam sempre de   números.
 
 Como propagandista da Doutrina, manteve sempre uma seção no “Correio da   Manhã” que era lida no País todo. Em 1921 polemicou com o Padre   Florêncio Dubois pela “Folha do Norte “, do Pará. Promoveu a publicação   de muitos livros, custeando as edições. Foi à Inglaterra visitar o   célebre “Circle of Crew“, onde o médium Willy Hope obtinha as famosas   fotografias de extras; visitou, então, Sir Arthur Conan Doyle e outros   grandes vultos do Espiritismo inglês.
 
 Em 1920 perdeu a filha primogênita, e sua esposa ficou inconsolável.   Ouvindo ele falar da médium de materialização D. Ana Prado, de Belém do   Pará, decidiu-se a partir para o Norte. No dia 1º de Abril de 1921,   embarcou com toda a família. O que sucedeu naquelas sessões acha-se   relatado no livro do Dr. Nogueira de Faria, intitulado O Trabalho dos   Mortos, pela senhora D. Esther Fígner, esposa de Frederico Fígner, a   qual, apenas regressando das sessões e assistida por sua filha Leontina,   escrevia relato minucioso de tudo que ocorrera.
 
 Frederico Figner nasceu na madrugada de 2 de Dezembro de 1866, na casa   humilde de n.º 37 da rua Teynska, em Milevsko, perto de Tabor,   Tchecoeslováquia, então Boêmia e parte do Império austro-húngaro.
 
 Era, portanto, compatriota de outro missionário que como ele vinha   cumprir sua tarefa no Brasil, durante longa existência como brasileiro,   entre os melhores, Francisco Valdomiro Lorenz, nascido em Zbislav, perto   de Tcháslav, e chegado ao Brasil dois anos depois de Fígner. Ambos   vinham da Pátria dos grandes mártires do Cristianismo, João Huss e   Jerônimo de Praga, divulgar aqui os ideais superiores que conduziram os   dois heróis aos tormentos da Inquisição. Fígner e Lorenz gravitaram para   a Federação Espírita Brasileira que era muito jovem quando eles   chegaram ao Brasil. Fígner venceu galhardamente a escorregadiça e   perigosa prova da riqueza, Lorenz venceu com igual bravura os tormentos   da pobreza e se tornou um dos mais cultos esperantistas do mundo, com   várias obras publicadas.
 
 Filho de pais pobres, Fígner tinha que imigrar para o Novo Mundo, como   faziam os jovens da Europa Central, naquele tempo. Aos treze anos sai do   lar paterno e vai para a cidade de Bechim aprender um ofício. Em 1882,   aos 16 anos, deixa definitivamente a terra natal. Parte com sua maleta   de emigrante par Bremershafen, de onde, a bordo do vapor “Elbe“ (como   passageiro de terceira classe) , ruma para os Estados Unidos só levando   dinheiro para a travessia. Contava Fígner um pormenor interessante dessa   viagem . Sua mãe fizera e lhe dera para a viagem uma trança de pão   doce. Chegando a bordo, nota que a alimentação de terceira classe é   absolutamente insuportável. Divide então o seu pão doce, de sorte a   bastar para todo tempo da travessia que durou 14 dias. Foi essa a sua   única alimentação durante duas semanas.
 
 Levava como modelo de conduta a tenacidade dos pais. Era o exemplo a   imitar para vencer na vida.
 
 Uma tempestade violenta foi o único incidente da travessia, mas foi-lhe   rude a luta para adquirir estabilidade econômica de sorte a manter-se e   ajudar os pais e irmãos. Estados Unidos, México, América Central e,   finalmente, América do Sul, foram seus campos de luta econômica. No   Brasil, esse filho de Israel encontrou sua Canaã . Estabeleceu-se,   prosperou, conheceu uma jovem de peregrinas virtudes e alma de artista,   D. Esther de Freitas Reys, filha de família ilustre.
 
 Em 1897, Frederico Fígner e D. Esther de Freitas Reys fundavam, pelo   matrimônio, seu lar feliz. Recebia ele o prêmio de suas grandes lutas de   trinta anos, mas não sonhava repouso, que não era ideal de seu caráter   vibrante. Desse feliz enlace nasceram seis filhos: Rachel, Aluízio,   Gabriel, desaparecidos do mundo antes do venerado genitor; Leonilda,   Helena e Lélia, muito devotados ao seu velho pai.
 
 O serviço de Figner nas obras de assistência e no trabalho profissional   afastava-o muito do lar, mas isso não prejudicava o cultivo de um afeto   extremo entre pai e filhos. Amavam-se com ardor e respeitavam   reciprocamente as idéias e crenças particulares de cada um.
 
 Ainda nos últimos dias de sua vida, distribuía ele principescamente   donativos por instituições e pessoas pobres de sua amizade, guiando-se   pelo coração e nem sempre pelo cérebro, e só respeitando a fortuna das   filhas.
 
 Trabalhou e serviu abnegadamente até que a enfermidade o prendeu ao   leito, poucos dias antes da partida. Completou oitenta anos em 2 de   Dezembro de 1946, e em 19 de Janeiro de 1947, às 20 horas, partiu para o   mundo espiritual, deixando abertos caminhos de luz sobre a Terra que   pisara por tanto tempo.
 
 Ao funeral compareceu uma multidão de amigos e admiradores. Diante da   câmara mortuária, o Presidente da Federação pronunciou palavras de   despedida e o Vice-Presidente fez uma prece. Ao descer o ataúde ao   jazigo, no Cemitério de São Francisco Xavier, falaram com sentimento os   Drs. Miranda Ludolf, Lins de Vasconcellos e o Capitão Silva Pinto.
 
 A Federação Espírita Brasileira, após a morte de Fígner, publicou-lhe   alguns dos escritos no livro intitulado - “Crônicas Espíritas “.
 
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