| Fernando   Augusto de Lacerda e Mello 
 Texto   elaborado por Manuela Vasconcelos
 Retirado   da revista do II Congresso Português de Espiritismo
 
              
 FERNANDO AUGUSTO DE LACERDA E  MELLO  nasceu  em  Loures,  nos  arredores de Lisboa, a  6  de  Agosto  de  1865,  filho  de  Francisco  Augusto de Lacerda e Mello e de Maria de Gertrudes Rita. 
 Tendo passado ali os primeiros anos  da  sua  vida,  viveu  em  Lisboa dos 13 aos 18 anos, em casa de um dos seus tios, irmão do  pai,  que, com mais posses materiais do que o seu genitor,  o  recebeu  como  um filho a mais, enquanto duraram os seus estudos de adolescente  que,  se o era pela idade, já não o era nem na mentalidade adquirida nem  na  conduta expressa.
 
 Ele mesmo referirá, mais tarde:
 
 «Fui republicano dos 13 aos 18 anos.  Foi  essa  a  época  da  minha  generosa mocidade e das minhas ilusões, da  minha  simplicidade  e  da  minha toleima.  (...)
 
 «Quando a minha razão começou a ver, encontrei em volta de  mim,  na  sua maior parte, intriguistas, maldizentes, (...),  uma  confraria  de  indivíduos que diziam mal uns dos outros,  que  se  acusavam,  que  se  intrigavam, e, pior do que isso, via-me  a  cada  passo  assediado  de  exploradores da minha generosidade e boa fé,  que  sugavam  quanto  eu  tinha, chegando alguém a incitar-me um dia a que roubasse um meu  tio,  em casa de quem eu estava, para  lhe  pedir  um  produto  do  roubo  a  título de empréstimo, e que iria juntar-se ao muito que  já  me  tinha  sugado e que nunca mais vi.
 
 «A situação chegou a ser tão insustentável e  angustiosa  para  mim,  que quis expatriar-me ... Não me expatriei mas  deixei  Lisboa,  cheio  de tédio pelos homens que diziam querer reformar a  sociedade  e  eram  aquilo... e deixei a política (1).»
 
 Regressa, então, a Loures, em 1884, com as suas  desilusões  e  perdida  (no  ambiente  materialista  e  corrupto  da  capital)  a  fé  religiosa que a mãe nele incutira em menino (2).
 
 Mas a vida não o deixa  parar  e  na  casa  paterna,  enquanto  ajuda o pai viúvo na criação dos irmãos mais  novos,  preocupa-se  com  os problemas locais, com o socorro aos aflitos, e, a 29  de  Junho  de  1887, com mais meia dúzia  de  jovens  seus  contemporâneos  e  outros  tantos  adultos  mais  velhos,  funda  a  Associação   dos   Bombeiros  Voluntários  de  Loures,  de   que   o   tornam   primeiro-comandante.  Paralelamente, dedica-se aos analfabetos, ensinando-os a ler (3).
 
 Em 1899, Fernando de Lacerda torna-se comerciante  em  Lisboa,  quando herda a Fábrica a Vapor de Baguettes e  Galerias,  que  um  seu  tio  lhe  deixa.  Desempenha,  também,  o   seu   cargo   na   polícia  administrativa do Governo Civil, para onde entrara  um  ano  antes,  e  onde, gradualmente, irá subindo até chegar a subinspector.
 
 A sua colaboração em  diversos  jornais,  que  começara  entre  1886 e 1887, vai-o preparando para a tarefa que lhe está destinada,  e  é nesse mesmo ano que:
 
 «... começou a notar que  a  mão,  contra  sua  vontade,  lhe  traçava  escritos que era forçado a atribuir a uma inteligência  estranha.  Não  era só a letra e a assinatura firmante neles  era o próprio  conteúdo,  rematado sempre pela  assinatura  duma  individualidade  que  em  vida  conhecera ... (4)»
 
 Se as primeiras  manifestações  terão  provocado,  talvez,  em  Lacerda, uma surpresa aterradora, são elas também que lhe comprovam  a  existência da vida para além da morte,  despertando  e  aviventando  a  semente da fé, perdida na época juvenil da primeira estada em  Lisboa,  como ele próprio o  afirma  na  dedicatória  à  memória  de  sua  mãe,  exarada no 1º volume de «Do Paiz da Luz»:
 
 «Quando abandonaste este mundo, eu cria ainda que de ti não  ficaria  mais do que a saudade no coração dos que te adoravam. A fé  religiosa,  que  me  ensinaste  em  pequeno,  não  pode  resistir   às   correntes  dominantes no meio em que me encontrei, ao sair de sob a tua vista.»
 ***
 Fernando  era  honesto  e  incapaz  de  firmar    como  suas  as  palavras de terceiros, fossem ou não usuais no seu dia-a-dia.
 
 Quantas  vezes,  ao  tomar  conhecimento  de  uma  comunicação  acabada de receber, ele não  tinha  de  consultar  o  dicionário  para  saber o significado de determinados termos?
 
 Ele mesmo, na sua sinceridade honesta e franca, afirma:
 
 «... por vezes sinto uma voz a  falar-me,  vem-me  um  estremecimento,  sento-me à mesa e a minha mão vai arrastada a escrever coisas  em  que  não  penso,  sem  uma  rasura,   rapidamente,   em   muitas   ocasiões  conversando com várias pessoas e, no fim, saem essas coisas  belas  de  que os senhores tanto gostam... os nomes que as assinam  saem  também,  naturalmente, e quase com o talhe da letra dos autores... E  nunca  li  a maior parte dos autores citados ... (...) (5)»
 
 Analisando as comunicações  publicadas  ao  longo  dos  quatro  volumes da obra «Do Paiz da Luz» talvez seja,  dentre  todos,  Eça  de  Queiroz, espírito, quem mais se faz presente, quem mais o aconselha  e  conforta.
 
 Nas suas palavras, podemos  encontrar  a  maneira  de  ser  de  Lacerda, desde quando  aquele  espírito  lhe  aponta  o  seu  interior  triste, de quem não sabe, sequer, sorrir, até às dúvidas que o  médium  deixa que cresçam em si, mediante a opinião  de  terceiros,  quanto  à  autenticidade das comunicações...  passando  pelos  conselhos  para  a  educação dos afilhados que Fernando cria como se  seus  filhos  fossem  Laura, sua sobrinha, órfã de mãe desde os 2 anos e Fernando, filho  do  gerente da fábrica e também órfão de mãe e da mesma idade de Laura.
 
 Nas comunicações de  Eça,  encontramos,  ainda,  o  estado  de  espírito de Lacerda sobre a sua mediunidade  e  as  dúvidas  que  vive  quanto à sua capacidade para vencer no caminho a percorrer:
 
 «Não serei eu que furte a minha voz ao  concerto  geral  que  pretende  insuflar-te  fé...  sentes-te  dominado  por   uma   ideia   fixa   de  desfalecimento e de receio que nada justifica (6).»
 
 No mundo conturbado e descrente da época, vendo à sua volta  a  preocupação do angariamento  dos  bens  materiais  em  detrimento  dos  espirituais, como podia  ele  fazer  valer  a  Mensagem  da  vida  que  continua, na afirmativa dos próprios espíritos que  escreviam  para  a  Terra sem desfalecimentos?
 
 E  enquanto  as  comunicações   que   Lacerda   faculta   aos  jornalistas vão sendo publicadas num e noutro jornal e os  comentários  nos mesmos aumentam mais e mais, ele colige as  mensagens  para  serem  publicadas num livro, que surge no início de 1908, logo  se  esgotando  a 1ª edição. Enquanto prepara o 2º volume, que sai ainda  nesse  mesmo  ano, reedita o 1º...
 
 E entre o seu cargo na polícia, a preocupação com  a  educação  dos seus pequeninos, a assistência às reuniões mediúnicas  (nas  quais  participam A. A. Martins Velho,  Sousa  Couto,  M.  Lacombe  e  outros  mais)  o auxílio que vai ministrando, ainda, através do passe   depois  do prólogo que pede ao advogado e amigo Dr.  Sousa  Couto  para  o  1º  volume,  editado  este,  Lacerda  entrega,  em  22  de  Fevereiro,  na  Biblioteca Nacional de Lisboa, 2 exemplares do 1º volume do  livro  de  comunicações mediúnicas  obtidas  por  Fernando  de  Lacerda,  com  um  prólogo do Dr. Sousa Couto, entrega  essa  que  ficou  registrada  nas  folhas 103 do Livro 1º do registro de obras ali entregues!
 
 Os  livros  são  procurados  e  esgotam-se  rapidamente   nas  livrarias... mas 1908 é um ano mau  para  os  portugueses  e  dele  se  ressente, também, Fernando de Lacerda.
 
 Com o regicídio do rei D. Carlos e do príncipe Luís Filipe,  o  País fica, ainda, mais desgovernado: ideias  contrárias  cruzam-se  no  ar e no Parlamento  o nome indicado ontem como sendo o de  uma  figura  capaz é amanhã apontado como o de um traidor, um corrupto...
 
 Na facção contrária à monarquia  ainda  no  poder,  gritava-se  por justiça contra tudo e contra todos  e accionavam-se os  mecanismos  da  injustiça  e  podridão  que  perseguiam  inocentes   e   activavam  campanhas de difamação lançadas sem  ver  a  quem...  No  entender  de  alguns, embora camuflada da  República  que  não  o  era   deviam  ser  afastados ou afastarem-se de motum  proprium...  e  quando  assim  não  acontecia, a perseguição iniciava-se de uma e outra maneira.
 
 Fernando foi apanhado nesta avalancha.
 
 Funcionário público do  tempo  da  monarquia,  recebido  pelos  reis, que lhe dedicavam amizade, considerado  por  figuras  gradas  da  cena portuguesa, teimando em manter-se  no  activo,  assumindo  a  sua  posição religiosa de espírita cristão quando se  coaretavam  todas  as  manifestações de fé, Fernando, dando-se ao arrojo de  publicar  livros  que afirmavam a existência de Deus  e  da  alma  (criação  Divina),  e  vindo  para  as  colunas  dos  periódicos  citadinos  com  cartas  que  atribuía  a  figuras  desaparecidas  e   respeitadas   de   escritores  portugueses, Fernando fazia sombra a muitos. A sua  honestidade  tinha  de ser destruída!...  E  servindo-se  da  própria  profissão  que  ele  exercia, a perseguição começou: não houve justiça nas palavras  que  o  difamaram não houve vergonha muito menos caridade.
 
 Quanto mais o pudessem arrasar, melhor!
 
 Servindo-se dos desgraçados que eram presos pelos  crimes  que  cometiam, puseram nas suas bocas as palavras condenatórias  de  crimes  não praticados pelo subinspector da Polícia. Investiram contra  a  sua  vida privada, contra o carinho com que tratava os afilhados...  com  o  seu viver solitário.
 
 Lacerda  pede  uma  sindicância  aos  seus  próprios   actos,  enquanto  inquire  o  director  do  jornal  que  publica  os   artigos  difamatórios que contra si escreve o advogado e jornalista  Dr.  Botto  Machado, que inquire também.
 
 Da sindicância pedida e realizada, apenas ficou provado que  o  subinspector da Polícia era culpado de ser demasiado tolerante com  os  subordinados!
 
 Aparentemente, tudo  ficou  bem  outra  vez...  mas  os  ódios  atiçados aguardavam, apenas, o momento oportuno para  a  queda  que  o  queriam ver dar, enquanto um jornal do Norte, de  carácter  religioso,  publica vários artigos de um seu redactor que afirmando não gostar  de  Lacerda,  escreve,  entretanto,  em  repr´dio  às  palavras  de  Botto  Machado:
 
 «...  É,  geralmente,  conhecido  o  Sr.  Lacerda  pelo  passa-culpas.  Multas... paga-as do seu  bolso,  quando  não  pode  livrar  delas  os  desgraçados.  Órfãos,  não  só  os  protege  como  os  tem  em   casa,  dando-lhes leite, pão, instrução e educação.
 
 Não se lhe conhece um acto indigno. Nunca ninguém o  procurou  em  vão  para  uma  obra  piedosa.  Profundamente  religioso,  é  profundamente  justo. Todos os desgraçados,  quando  mais  aflitos,  vão  colher  uma  esperança e um alento junto dele.
 
 Isto di-lo em Lisboa, segundo mo comunicam, toda a gente.
 
 Dá colocação aos sem trabalho, esmolas valiosas e constantes  aos  que  dele se abeiram envoltos em lágrimas... às vezes, de crocodilo.
 
 Ajuda todos como pode, sem os sugar... o que é raro.
 
 Pode ter entrada nos lares honestos. Nunca os manchou...  por  causa  da grande teoria do amor livre.
 
 Nunca protegeu nenhuma mulher... para lhe impor uma baixeza.
 
 É digno, é puro, é bom.
 
 Tão inteligente como honesto, os  próprios  inimigos,  que,  afinal,  são poucos, não lhe negam nenhuma daquelas qualidades.
 
 Um defeito lhe apontam: ser fraco pela sensibilidade que  o  leva  à  maior abnegação (7).»
 ***
 
 A pedido de alguns amigos,  Lacerda  aceitara  patrocinar,  na  zona  da  Graça,  um  clube  recreativo  onde,  de  início,   aparecia  regularmente, sempre que os seus afazeres lho permitiam. Ali se  fazia  teatro amador e o jogo era proibido por lei.  Qualquer  um  que  fosse  encontrado  nos  chamados  «jogos  de  azar»  era  preso  e  o   local  encerrado.
 Um dia, Lacerda descobriu que o seu clube,    aberto  para  fins  recreativos, tinha sido transformado  em  mais  um  desses  antros  da  desgraça. Chamou a atenção para a proibição e de imediato se  afastou.  Nunca mais os seus passos refizeram aquele trajecto,  mais  preocupado  ele se encontrava em fazer cumprir a  lei,  defendendo  a  cidade  dos  bandidos e criminosos.
 
 Em fevereiro de 1911, o «Vanguarda»  publica,  na  1ª  página,  novo artigo sobre a sindicância à Polícia e, na última semana do  mês,  numa rusga montada e realizada ao clube anteriormente frequentado  por  Lacerda, descobre-se o jogo, são presos  os  jogadores,  apreendido  o  mobiliário e suspenso de  funções  o  subinspector  da  Polícia,  como  conivente no caso, embora, nessa noite, ele tivesse estado de  serviço  nos teatros...
 
 Com a injustiça praticada,  um  cansaço  amargo  quase  o  faz  soçobrar, mas os amigos não deixam que ele caia. Tem de lutar! Tem  de  reagir!... e avisado, poucas semanas depois, que  iria  ser  demitido,  prepara as coisas para rumar ao Brasil, chegando ao Rio de  Janeiro  a  23 de julho. Aos irmãos entregara a direcção da fábrica e solução  dos  negócios, tão endividados, e, ainda, as crianças, agora com  12  anos,  e a quem suspendeu os estudos  em  casa  para  passarem  a  frequentar  escolas oficiais.
 
 Do  médico  da  Polícia  e  amigo  particular,   aceitara   o  empréstimo necessário à aquisição da passagem, e,  no  Rio,  é  o  Dr.  Fernando de Moura, que o conhecera numa viagem  realizada  a  Portugal  anos atrás, que o alberga e o apresenta, no mesmo dia da  chegada,  na  Federação Espírita Brasileira, onde logo é convidado  para  participar  da sessão que ali se realiza.
 
 De Portugal, pouco  depois,  chega-lhe  a  informação  da  sua  demissão, confirmada numa carta do Dr. António José  de  Almeida,  seu  amigo, e que o  afilhado  encontrará  anos  após,  ao  arrumar-lhe  os  pertences.
 
 Fernando aluga um quarto num  edifício  de  apartamentos  para  solteiros e procura emprego. Primeiro, na Polícia do Rio  de  Janeiro,  onde lhe oferecem o mesmo cargo que desempenhara  em  Lisboa,  com  as  mesmas regalias e melhor vencimento: apenas, teria de  se  naturalizar  brasileiro, porque os lugares do Estado não podiam  ser  desempenhados  por estrangeiros. E Lacerda, sentindo  dentro  de  si  todo  o  sangue  português a manifestar-se, transbordando de amor  pelo  País  distante  por  quem  já  vivia  uma  saudade  imensa,  recusou.  Português  era,  português continuaria a ser!
 
 ... A palavra privação tornou-se sua companhia constante...  e  é  o  Dr.  Fernando  de  Moura,  que  com  os  seus  familiares  muito  acarinhava o exilado português, quem lhe abre a sua  casa,  o  coração  amigo e,  para  que  Fernando  não  se  sinta  humilhado  na  situação  dependente em que vive, é ele que lhe faz uma venda fictícia  de  dois  prédios na Praia do Flamengo,  em  projecto  de  demolição  camarária,  passando o médium português  a  viver,  então,  dos  alugueres  desses  apartamentos.
 ***
 
 Lacerda continua a receber as mensagens dos espíritos  amigos,  entregando  uma  e  outra  aos  jornais  cariocas,  para   publicação,  enquanto se dedica à sua tarefa de médium e doutrinador dos  espíritos  em sofrimento... mas o ponteiro indicativo do  declínio  da  sua  vida  terrestre aproxima-se rapidamente do fim.
 
 Com  a  chegada  do  afilhado  que,  concluído  o  seu  curso  contabilístico, ali chega para trabalho no B.N.U.,  as  poucas  forças  que o sustinham de pé  como  que  desapareceram.  Repentinamente,  uma  hérnia, de que sofria desde há longos anos,  rebentou  e  Lacerda  foi  levado para o hospital e operado de urgência.
 
 Naquele tempo, uma operação era sempre um risco...  Não  houve  exames preparatórios, análises, nada! Apenas o  bisturi  retalhando  o  corpo  cansado  e  provocando  nele  uma  infecção  que  o   paralisou  totalmente. No corpo imóvel, apenas os  olhos  falavam...  e  a  6  de  Agosto de 1918, pelas 18 horas,  eles  cerravam-se  finalmente  e  o    espírito  liberto procurava a paz que a Terra não lhe dera.
 
 O funeral realizou-se no dia 7 de agosto de 1918 para o cemitério  de    São  João  Batista (Rio de Janeiro, Brasil), sendo os seus restos posteriormente   transladados (setembro de 1939)  para  o jazigo que ele próprio mandara construir no  cemitério  do  Alto  de  São João, em Lisboa, na derradeira homenagem que prestara à mãe.
 ***
 
 Fernando de Lacerda foi um Homem no seu tempo.
 
 Como indivíduo, apontado sempre como  honesto,  digno,  probo,  de carácter impoluto  como espírita, um cristão que,  ainda  antes  de  se firmar como tal, se soube sempre  conduzir  sem  a  preocupação  de  evidenciar o seu EU, mas procurando agir de maneira a auxiliar  uns  e  outros  quer quando criou  a  Associação  de  Bombeiros,  quer  quando  ensinou analfabetos a ler, quer quando pagou do seu  bolso  as  multas  que os desgraçados não podiam pagar, quer  quando  foi  capaz,  embora  sofrido, amargurado, de aceitar a provação surgida no  seu  caminho  e  dar  a  outra  face  aos  que  o  ofenderam,  e  preocupar-se  com  as  consequências dos actos desses mesmos inimigos para si próprios.
 
 ... e do montão de escombros, que  parecia  dever  esmagar-te  -  diz  Moreira na sua comunicação publicada no cap. 25 do 4º  volume  de  «Do  Paiz da Luz» - sais tranquilo e sereno, sentindo  mais  as  dores  dos  outros que as próprias! Que rija têmpera a tua! Que nobre  exemplo  tu  dás! Ver-te hoje pobre, quando ainda ontem te podias considerar  rico   desacreditado, quando ainda ontem te supunhas firme em serviço da  tua  pátria. E nem uma acusação acre, nem um queixume severo contra os  que  te roubaram reputação, fortuna, lugar, futuro!  Antes,  na  serenidade  da tua consciência, pensas  só  nas  mágoas  que  podem  ter  os  teus  verdugos pela injustiça que praticam! Mágoas? (...). Mágoas  nos  teus  verdugos não as há, não as creias! Os que  se  vingam  e  os  que  são  considerados   instrumentos   da   vingança,   não   merecem   a   tua  consideração. (...)
 
 Ele foi o tarefeiro  mediúnico  através  do  qual,  depois  de  Kardec e seus contemporâneos, nos  chegaram  esclarecimentos  da  Vida  que continua, da necessidade da reforma íntima,  da  oração...  Se  ao  lermos os 4 volumes que compõem a sua Obra  nos  preocuparmos  em  não  lermos apenas Eça,  Camilo,  Fialho,  Herculano   ou  Zola,  Napoleão,  Litrê  ou Vieira  ou Júlio Dinis, João de Deus   ou  Antero,  mas  nos  preocuparmos e  debruçarmos  sobre  os  conceitos  transmitidos  pelos  mesmos,  como   espíritos   desencarnados,   encontraremos   em   cada  comunicação uma lição do que se  deve  fazer,  como  fazer,  para  que  fazer...
 
 Ao  falarmos  de  médiuns  reverenciemos  sempre   o   médium  português FERNANDO DE LACERDA, exemplo de espírita  e  trabalhador  da  seara mediúnica para além de tudo o que se possa aguardar de  qualquer  pessoa comum.
 
 Bibliografia
 
             Fernando de Lacerda,   Jornal «Vanguarda», 1908  Fernando de Lacerda: «Do Paiz da   Luz», 1º vol., dedicatória à mãe.  «Jornal do Bombeiro» (Porto),   15/2/1890  Dr. Sousa Couto: 1º vol. «Do Paiz   da Luz» - prólogo.  Fernando de Lacerda: «Jornal da   Noite», 11/12/1906  «Do Paiz da Luz», 1º vol., cap.   25.  Jornal ´A Palavra´, 4/10/1908    <<< Voltar para a página biografias  |