TRABALHO NO MUNDO ESPIRITUAL

               
José  Passini
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É natural que nós, trabalhadores da seara espírita, esperemos ser admitidos em alguma tarefa, depois da inexorável viagem de volta ao Mundo Espiritual. Muito justo acalentemos doces esperanças de cooperação ativa no Mundo Maior, diante dos relatos de Benfeitores, que nos mostram atividades constantes e nobres exemplos de dedicação ao Bem. Entretanto, devemos meditar profundamente sobre a qualificação exigida dos trabalhadores no Além. Aqui na Crosta, em nome da fraternidade, da tolerância, ou mesmo por pieguice, são aceitos até cooperadores com pouca noção de responsabilidade, muitos dos quais não têm coragem para abandonar de vez as tarefas, mas também não a têm para se esforçarem, no sentido de se capacitarem a fim de darem melhor conta delas.

 No livro “Nosso Lar”, podemos ver algumas situações vivenciadas por André Luiz, quando candidatou-se ao trabalho. Quem observa atentamente as suas experiências, verificará que não basta apenas querer participar de alguma atividade no Mundo Espiritual, pois além do conhecimento específico da tarefa em que pretenda colaborar, o Espírito deve ter uma profunda consciência da necessidade de vivenciar os ensinamentos do Evangelho, através do esforço no cultivo da humildade, da benevolência, da tolerância e da disciplina. Na obra “Os Mensageiros”, ele anota as instruções do nobre instrutor Aniceto, que passa-lhe algumas noções do regulamento a ser observado por aqueles que se candidatavam a trabalhar com ele.

Aniceto, o instrutor espiritual, revela-se, ao longo da obra, Espírito que alia bondade imensa a conhecimento profundo. Trata-se de verdadeiro modelo de virtudes, entre as quais se destaca a disciplina, tanto para si, quanto para aqueles que trabalham com ele. Aqui na Terra, se chefiando alguma equipe na seara espírita, por certo encontraria forte resistência entre alguns trabalhadores, que o julgariam excessivamente exigente.

André Luiz registra, nos capítulos 2 e 3, algumas recomendações dele aos candidatos. Nos capítulos de 9 a 12, lê-se o relato de vários Espíritos que, embora bem preparados antes da encarnação, falharam no desempenho das tarefas a que se propuseram, talvez porque não tenham tido os alertamentos que temos agora!

Eis alguns tópicos dos capítulos 2 e 3:
Nosso serviço é variado e rigoroso. O departamento de trabalho, afeto à nossa responsabilidade, aceita somente os cooperadores interessados na descoberta da felicidade de servir. Comprometemo-nos, mutuamente, a calar toda espécie de reclamação. Ninguém exige expressão nominal nas obras úteis realizadas, e todos respondem por qualquer erro cometido. Achamo-nos, aqui, num curso de extinção das velhas vaidades pessoais, trazidas do mundo carnal. Dentro do mecanismo hierárquico de nossas obrigações, interessamo-nos tão somente pelo bem divino. Consideramos que toda possibilidade construtiva vem de nosso Pai e esta convicção nos auxilia a esquecer as exigências descabidas de nossa personalidade inferior.

Mais adiante, Tobias comenta a função do Centro de Mensageiros:
Este serviço é a cópia de quantos se vêm fazendo nas mais diversas cidades espirituais dos planos superiores. Preparam-se aqui numerosos companheiros para a difusão de esperanças e consolos, instruções e avisos, nos diversos setores da evolução planetária. Não me refiro tão só a emissários invisíveis. Organizamos turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de Mensageiros.

Diante do que diz Tobias, não seria prudente examinarmos a possibilidade de termos sido preparados para alguma tarefa relacionada à difusão do Espiritismo? Não seria, por certo, a consulta a um médium o meio de nos certificarmos se temos algum compromisso firmado antes da nossa atual encarnação. Bastaria que observássemos quais as oportunidades de trabalho que nos são oferecidas, buscando na oração a lucidez necessária para nos esclarecermos, mesmo porque, as referências aos que fogem dos compromissos é preocupante:
Saem milhares de mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros fracassam de todo. O serviço legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem prevalecer.

Aqui na Terra, quantas vezes não são ouvidas reclamações quanto às exigências de um companheiro guindado à posição de dirigente de um grupo de trabalho? Ao solicitar observância de horário, assiduidade, seriedade na execução da tarefa aos companheiros, quantas vezes recebe demonstrações de desagrado, não raro via comentários descaridosos? Aniceto, se encarnado, dificilmente escaparia de ser tachado de “mandão”, ao expressar-se assim:
Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções após o meio-dia.
         André Luiz, que já assimilara as normas de trabalho, pondera:
Notei que o trabalho no Posto se desenvolvia em ambiente da mais bela camaradagem, não obstante o respeito natural às noções de hierarquia.

Diante do que acabamos de ver, ao ser-nos atribuída uma tarefa, podemos sentir-nos na posse de belíssima oportunidade de serviço no Bem, porta a dentro da nossa própria individualidade. Assim, pois, animados desse entendimento de reforma íntima, aproveitemos as oportunidades que nos são concedidas, aqui na Terra, onde as exigências são menores. Se as aproveitarmos convenientemente agora, estaremos nos capacitando a integrar, desde já, equipes de trabalho no Mundo Espiritual durante o sono físico, conforme nos revela André Luiz no livro “Missionários da Luz”, capítulo 8. Integrados nas tarefas espirituais desde agora, teremos maiores chances de nelas permanecermos quando desencarnarmos. Caso contrário, teremos – na melhor das hipóteses – longo período de reeducação espiritual antes de sermos admitidos no trabalho efetivo sob a égide de Jesus.

                                     

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